Olá, pessoal. Nessa semana vou discutir um pouco sobre os
tipos de desnutrição que acometem as crianças e suas consequências
fisiológicas, além das formas de tratamento convencionalmente usadas nos
hospitais.
Mas como reconhecer uma criança desnutrida? Através da
avaliação clínica rotineira em que se coleta os dados antropométricos da criança já se consegue fazer um
diagnóstico sugestivo de desnutrição infantil. Dados como peso, estatura,
perímetro cefálico, circunferência do braço e prega cutânea são usados na hora
do exame para diagnosticar o estado nutricional da criança.
O sinal clínico mais precocemente observado é a falência do
crescimento, quando o ganho ponderal torna-se insuficiente. Por isso no Brasil,
junto com o cartão de vacinação da criança, o Ministério da Saúde distribui uma
caderneta de acompanhamento do desenvolvimento da criança onde periodicamente
são coletados nos postos de saúde todos os dados antropométricos e feito um
gráfico, que é comparado com padrões de normalidade de acordo com a idade.
Nesse sentido, esses dados são muito eficientes na descoberta da desnutrição
leve e moderada.
Com a alimentação inadequada, o organismo da criança
desenvolve outros meios de compensar a ausência de nutrientes (fig. 1 e fig. 2), o que causa
alterações fisiológicas importantes e que podem ser mensuradas através de
exames clínicos. Os resultados desses exames podem apontar para um terceiro nível
de desnutrição, considerada grave: desnutrição calórico-protéica. Esse terceiro
nível de desnutrição pode ser dividido em três tipos de acordo com as
alterações causadas. São elas:
1 – Seca (Marasmo)
É
caracterizado como a perda de massa muscular e a depleção do conteúdo corporal
de lipídeos (fig. 4). É a forma mais comum de desnutrição protéico-energética e é
causada pela ingesta inadequada de nutrientes, especialmente calorias totais.
Ela ocorre principalmente em lactentes (1º ano) que receberam uma dieta
inadequada e/ou deficiente, devido principalmente a amamentação inadequada. As
características principais são: criança pequena para a idade; atrofia muscular
e subcutânea com costelas proeminentes e pele solta e enrugada; além de
emagrecimento seco; criança hipoativa e cabelos escassos/finos.
Figura 1 - Alterações matabólicas da desnutrição marasmática
2 – Molhada (Kwashiorkor)
Seu nome significa “aquele que foi colocado de
lado” indicando que acomete principalmente crianças mais velhas que foram
desmamadas precocemente devido ao nascimento do irmão mais novo. É
caracterizado por atrofia muscular marcante, com gordura corporal total normal
ou aumentada devido a ingesta inadequada de proteínas, com conteúdo razoável a
bom de calorias totais ingeridas (fig. 4). As características principais são: ocorre em crianças acima de 2 anos; tecido
gorduroso subcutâneo preservado, edema, pele ressecada e inflamada; abdome
distendido; diarreia.
Figura 2 - Alterações metabólicas da desnutrição tipo Kwashiorkor
3 – Intermediária (Kwashiorkor-marasmático)
É a
forma mista entre as citadas acima. As características principais são: ocorre em crianças entre 1 e 2 anos; perda de
tecido celular subcutâneo; e edema de extremidades.
Figura 3 - Diferença metabólica entre Kwashiokor e Marasmo
Figura 4 - Crianças com desnutrição do tipo Kwashiokor e Marasmo
Os tratamentos hospitalares atuais para a recuperação das
crianças com desnutrição grave são com base em três fases: estabilização;
reabilitação e acompanhamento. Primeiro deve-se tentar corrigir os problemas
que ocasionem risco de morte, reverter as anormalidades metabólicas e iniciar a
alimentação. Depois dá-se alimentação intensiva para assegurar o crescimento
rápido visando recuperar grande parte o peso perdido, ainda quando a criança
estiver hospitalizada. Por fim, após a alta, encaminhar para o acompanhamento
ambulatorial para prevenir a recaída e assegurar a continuidade do tratamento.
Como visto, o tratamento convencional é muito
burocrático e requer muitas etapas, o que pode prejudicar a recuperação da
criança. Tendo em vista o uso dos ATPUs citados no post passado, que não exigem
nenhum acompanhamento e são de uso intuitivo, podemos concluir que deve-se
procurar outras maneiras mais eficientes
para o tratamento da desnutrição infantil além do modo convencional.
Uma das coisas que mais me chamou atenção na postagem foi o segundo tipo de desnutrição (Kwashiorkor), pois está intimamente relacionada com os perfis histórico e social. Histórico porque antigamente as famílias costumavam ter muitos filhos, o que, de certa forma, predispõe algum indivíduo a ser desmamado precocemente, e Social porque ainda hoje existem muitas famílias que ainda possuem uma quantidade numerosa de integrantes, assim necessitando que as informações sobre métodos contraceptivos e sobre a saúde sexual de um modo geral cheguem até esses grupos que ainda são numerosos, sobretudo nas regiões mais pobres e interioranas do Brasil.
ResponderExcluirA desnutrição, como uma deficiência multifacetada, pode ser estudada sob diversos aspectos, um dos quais o calórico-proteico retratado no post. Além deste,no entanto, observa-se também em casos de desnutrição grave um importante "redirecionamento" de certos minerais: a ausência ou quantidade reduzida de cobre, zinco e magnésio gera imunossupressão. O próprio organismo reduz o funcionamento do sistema imunológico para utilizar estes, essenciais no combate até mesmo das infecções mais simples, em funções vitais.
ResponderExcluirNesses casos, muitas vezes, mesmo com tratamento adequado, não há chances de sobrevivência, uma vez que a imunodepressão afeta gravemente a eficiência das intervenções terapêuticas.
É a bastante impressionante o modo como o corpo age para evitar a morte no caso da ausência de alimentos, dispondo de mecanismos que procuram utilizar o máximo de conteúdo no organismo possível para manter as principais estruturas vivas. Entretanto, a medicina trata de "viver", e não de "sobreviver", de fato nenhum ser humano merece passar por uma situação dessas, uma vez que, mesmo que consiga se manter vivo, não irá desenvolver suas atividades intelectuais e corporais, além da já apontada baixa no sistema imunológico. Quanto às maneiras mais eficientes para tratar a desnutrição acho que nenhum método é capaz de fazer o indivíduo recuperar tudo o que ele perdeu de uma vez só. O tratamento realmente precisa ser longo, cuidadoso e detalhado, afinal, como foi dito em outras postagens, é muito difícil do corpo voltar à condição anterior.
ResponderExcluirO kwashiorkor é uma forma de desnutrição proteica. Essa enfermidade é bastante frequente em locais como a África rural, o Caribe e o Sudeste da Ásia e ocorre, principalmente, em decorrência do desmame precoce. A criança desmamada geralmente adquire, então, uma dieta baseada em carboidratos, composta por inhame, arroz, batata doce e mandioca, por exemplo. A principal fonte de proteína, que era o leite, é perdida, e as proteínas não são repostas, gerando essa síndrome. Um dos sintomas mais característicos, a barriga distendida, ocorre devido à carência de apolipoproteínas, responsáveis por levar a gordura do fígado para outros locais.
ResponderExcluirImportante entender como a anemia pode se dar de tão diversas formas nas crianças, já que só assim entendemos a importância de se obter todos os nutrientes de forma balanceada em nossa alimentação. Focando no marasmo, seu tratamento em casos leves ou moderados pode-se utilizar fórmulas balanceadas adequadas para a idade, em forma líquida ou pastosa, como vitaminas e sopas, bebês de até 2 anos tem excelente resposta a leite materno. Em caso de má-nutrição severa refrigerantes, salgadinhos e carnes podem ser fatais (por desequilíbrio hidroeletrolítico), tanto pelo alto conteúdo de sódio, colesterol de baixa densidade e baixo valor nutritivos. É importante também vestir adequadamente, pois hipotermia favorece infecções. Pode-se alimentar de 2 em duas horas, inclusive acordando durante a noite. A prioridade deve ser em manter a criança bem hidratada e em homeostase.
ResponderExcluirInteressante entender que a desnutrição é por falta de nutrientes e calorias, e não simplesmente falta de comida. Dessa forma, uma casa que tem muito arroz, milho, bolachas é rica em carboidratos, mas pobre em nutrientes. A alimentação deve ser mais qualitativa que quantitativa. Ai entra as ações governamentais louváveis como o bolsa família, que apesar de ter oposição por se julgar ser uma 'compra de aprovação' tem um papel essencial para aquelas famílias que não tem uma renda fixa, ou estão em condição de vulnerabilidade social e econômica.
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