domingo, 22 de junho de 2014

Reflexos da Desnutrição Infantil no Desenvolvimento

    As consequências da má nutrição durante a fase infantil não traz consequências para o indivíduo somente nessa fase, mas reflete em problemas que se manifestarão durante todo o desenvolvimento da criança e na fase adulta. Hoje, então, falarei mais sobre aspectos que caracterizam uma infância sem a nutrição necessária e as consequências dessa desnutrição no adulto.
    As doenças que desenvolvemos muitas vezes são analisadas de fora superficial e focando no sintomas que apresentam. Porém, muitas doenças apresentam muito mais do que causas objetivas e definitivas, pois para entendê-las hoje temos que buscar o caráter subjetivo delas ao observar os determinantes de saúde.Esses determinantes englobam fatores como o ambiente em que as pessoas vivem, o dinamismo psicológico, aspectos antropológicos, etc.
    Nesse sentido, é importante observar os fatores que determinam, no adulto, debilidades derivadas de problemas nutricionais na infância. A alimentação insuficiente, seja em quantidade seja em qualidade (como já discutimos nas postagens anteriores, a qualidade da alimentação é medida pela ingestão dos variados nutrientes que necessitamos diariamente), causa um ciclo vicioso que aumenta a susceptibilidade às doenças. Esse ciclo está representado no esquema abaixo:



     É importante citar que a fome aumenta a produção de cortisol, hormônio relacionado com o estresse, que é um dos principais precursores de doenças crônicas atualmente, devido ao ritmo de vida acelerado que a sociedade nos impõe.
    Uma característica prevalente em pessoas que não tiveram a nutrição adequada no mundo e no Brasil é a baixa estatura, que além de ser indicador da desnutrição está relacionado também com a pobreza, pois sabe-se hoje que a influência do meio é muito mais significativa do que a genética na determinação da estatura final do indivíduo. Assim, podemos elencar algumas causas da baixa estatura, algumas já citados semans atrás, como a nutrição materna insuficiente, a falta de aleitamento materno até seis meses, desnutrição intra-uterina, absorção de nutrientes prejudicada por infecções e parasitoses intestinais, etc.
     A evidência de que a estatura é influenciada pela desnutrição, consequente da pobreza, é mostrada no gráfico abaixo:



    As consequências a longo prazo da desnutrição infantil são derivadas diretamente das alterações fisiológicas do corpo na tentativa de se manter funcional na falta de nutrientes essenciais. Pesquisas mostram que crianças que foram desnutridas apresentam a respiração mais acelerada como uma tentativa do corpo dele de armazenar mais gordura corporal. Um quociente respiratório mais alto significa que a oxidação de gordura no corpo é menor, portanto a criança crescerá meno e ganhará menos músculos, menos ossos, e tenderá a usar a energia que ingeriu para acúmulo de gordura.
    Outra alteração importante que ocorre derivada da desnutrição infantil, comparando-se adolescentes de baixa estatura com controles sem baixa estatura, é a diminuição na produção de insulina pelas células beta do pâncreas e, consequentemente uma sensibilidade à insulina mais alta, como mostrado na tabela abaixo. Essas alterações podem levar a uma falência pancreática e ao aumento do risco de diabetes na vida adulta.



    Essas são algumas das alterações funcionais que ocorrem no indivíduo adulto que não teve nutrição adequada na infância. Existem outros problemas relacionados, mas o objetivo dessa discussão foi mostrar que os problemas vividos pelas crianças, como a fome, refletem diretamente no seu desenvolvimento e na sua qualidade de vida quando for adulto. Em resumo, pode-se fazer a análise da figura a seguir para saber as alterações fisiológicas no adolescente e adulto devido à desnutrição na infância.




Fonte:

http://www.scielo.br/pdf/ea/v17n48/v17n48a08.pdf

quinta-feira, 12 de junho de 2014

Programa de Aquisição de Alimentos

Devido às suas dimensões e grande população, o Brasil ainda sofre com a desnutrição infantil em algumas regiões, mesmo com os programas de transferência de renda adotados na última década. No entanto, diminuíram muito os índices relativos à desnutrição infantil, o que deveu-se à várias iniciativas no âmbito social, dentre elas o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA).

O Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) promove o acesso a alimentos às populações em situação de insegurança alimentar e promove a inclusão social e econômica no campo por meio do fortalecimento da agricultura familiar.


O Programa propicia a aquisição de alimentos de agricultores familiares, com isenção de licitação, a preços compatíveis aos praticados nos mercados regionais. Os produtos são destinados a ações de alimentação empreendidas por entidades da rede socioassistencial; Equipamentos Públicos de Alimentação e Nutrição como Restaurantes Populares, Cozinhas Comunitárias e Bancos de Alimentos e para famílias em situação de vulnerabilidade social. Além disso, esses alimentos também contribuem para a formação de cestas de alimentos distribuídas a grupos populacionais específicos.
As vantagens desse programa são evidentes já que ajuda às famílias com risco de desnutrição a plantarem seu próprio alimento, gera renda para essas famílias ao passo que o governo inclui os produtos no mercado com preço compatível, além de abastecerem a rede de equipamentos públicos de alimentação e nutrição, a exemplo de Restaurantes Populares, Cozinhas Comunitárias, Bancos de Alimentos. Os alimentos produzidos pelo PAA também são fornecidos para entidades da rede socioassistencial como asilos, Apaes e abrigos.


Esse modelo brasileiro serviu de inspiração para países africanos na reversão das taxas de desnutrição. Nesses países a via de atuação do projeto é principalmente no fornecimento de alimentos para as merendas dos estudantes, que são cultivados por pequenos produtores familiares da própria localidade. Assim, além de ajudar no estabelecimento de uma alimentação adequada, o projeto ainda tem melhorado o nível de aprendizado das crianças.


Fontes: 

http://portal.mda.gov.br/portal/saf/programas/paa
http://www.fnde.gov.br/fnde/sala-de-imprensa/noticias/item/3845-alimenta%C3%A7%C3%A3o-escolar-ajuda-no-combate-%C3%A0-desnutri%C3%A7%C3%A3o
http://www.mds.gov.br/segurancaalimentar/decom/paa
http://brazilafrica.com/alimentos/modelo-brasileiro-no-combate-a-fome/

domingo, 1 de junho de 2014

Tipos de Desnutrição Infantil

Olá, pessoal. Nessa semana vou discutir um pouco sobre os tipos de desnutrição que acometem as crianças e suas consequências fisiológicas, além das formas de tratamento convencionalmente usadas nos hospitais.
Mas como reconhecer uma criança desnutrida? Através da avaliação clínica rotineira em que se coleta os dados antropométricos  da criança já se consegue fazer um diagnóstico sugestivo de desnutrição infantil. Dados como peso, estatura, perímetro cefálico, circunferência do braço e prega cutânea são usados na hora do exame para diagnosticar o estado nutricional da criança.

O sinal clínico mais precocemente observado é a falência do crescimento, quando o ganho ponderal torna-se insuficiente. Por isso no Brasil, junto com o cartão de vacinação da criança, o Ministério da Saúde distribui uma caderneta de acompanhamento do desenvolvimento da criança onde periodicamente são coletados nos postos de saúde todos os dados antropométricos e feito um gráfico, que é comparado com padrões de normalidade de acordo com a idade. Nesse sentido, esses dados são muito eficientes na descoberta da desnutrição leve e moderada.

Com a alimentação inadequada, o organismo da criança desenvolve outros meios de compensar a ausência de nutrientes (fig. 1 e fig. 2), o que causa alterações fisiológicas importantes e que podem ser mensuradas através de exames clínicos. Os resultados desses exames podem apontar para um terceiro nível de desnutrição, considerada grave: desnutrição calórico-protéica. Esse terceiro nível de desnutrição pode ser dividido em três tipos de acordo com as alterações causadas. São elas:

1 – Seca (Marasmo)
                É caracterizado como a perda de massa muscular e a depleção do conteúdo corporal de lipídeos (fig. 4). É a forma mais comum de desnutrição protéico-energética e é causada pela ingesta inadequada de nutrientes, especialmente calorias totais. Ela ocorre principalmente em lactentes (1º ano) que receberam uma dieta inadequada e/ou deficiente, devido principalmente a amamentação inadequada. As características principais são: criança pequena para a idade; atrofia muscular e subcutânea com costelas proeminentes e pele solta e enrugada; além de emagrecimento seco; criança hipoativa e cabelos escassos/finos.

Figura 1 - Alterações matabólicas da desnutrição marasmática


2 – Molhada (Kwashiorkor)
                 Seu nome significa “aquele que foi colocado de lado” indicando que acomete principalmente crianças mais velhas que foram desmamadas precocemente devido ao nascimento do irmão mais novo. É caracterizado por atrofia muscular marcante, com gordura corporal total normal ou aumentada devido a ingesta inadequada de proteínas, com conteúdo razoável a bom de calorias totais ingeridas (fig. 4). As características principais são:  ocorre em crianças acima de 2 anos; tecido gorduroso subcutâneo preservado, edema, pele ressecada e inflamada; abdome distendido; diarreia.

Figura 2 - Alterações metabólicas da desnutrição tipo Kwashiorkor


3 – Intermediária (Kwashiorkor-marasmático)
                É a forma mista entre as citadas acima. As características principais são:  ocorre em crianças entre 1 e 2 anos; perda de tecido celular subcutâneo; e edema de extremidades.

Figura 3 - Diferença metabólica entre Kwashiokor e Marasmo





Figura 4 - Crianças com desnutrição do tipo Kwashiokor e Marasmo

Os tratamentos hospitalares atuais para a recuperação das crianças com desnutrição grave são com base em três fases: estabilização; reabilitação e acompanhamento. Primeiro deve-se tentar corrigir os problemas que ocasionem risco de morte, reverter as anormalidades metabólicas e iniciar a alimentação. Depois dá-se alimentação intensiva para assegurar o crescimento rápido visando recuperar grande parte o peso perdido, ainda quando a criança estiver hospitalizada. Por fim, após a alta, encaminhar para o acompanhamento ambulatorial para prevenir a recaída e assegurar a continuidade do tratamento.

Como visto, o tratamento convencional é muito burocrático e requer muitas etapas, o que pode prejudicar a recuperação da criança. Tendo em vista o uso dos ATPUs citados no post passado, que não exigem nenhum acompanhamento e são de uso intuitivo, podemos concluir que deve-se procurar outras maneiras mais eficientes  para o tratamento da desnutrição infantil além do modo convencional.