As consequências da má nutrição durante a fase infantil não
traz consequências para o indivíduo somente nessa fase, mas reflete em
problemas que se manifestarão durante todo o desenvolvimento da criança e na
fase adulta. Hoje, então, falarei mais sobre aspectos que caracterizam uma
infância sem a nutrição necessária e as consequências dessa desnutrição no
adulto.
As doenças que desenvolvemos muitas vezes são analisadas de
fora superficial e focando no sintomas que apresentam. Porém, muitas doenças
apresentam muito mais do que causas objetivas e definitivas, pois para
entendê-las hoje temos que buscar o caráter subjetivo delas ao observar os
determinantes de saúde.Esses determinantes englobam fatores como o ambiente em
que as pessoas vivem, o dinamismo psicológico, aspectos antropológicos, etc.
Nesse sentido, é importante observar os fatores que
determinam, no adulto, debilidades derivadas de problemas nutricionais na
infância. A alimentação insuficiente, seja em quantidade seja em qualidade
(como já discutimos nas postagens anteriores, a qualidade da alimentação é
medida pela ingestão dos variados nutrientes que necessitamos diariamente), causa
um ciclo vicioso que aumenta a susceptibilidade às doenças. Esse ciclo está
representado no esquema abaixo:
É importante citar que a fome aumenta a produção de cortisol,
hormônio relacionado com o estresse, que é um dos principais precursores de
doenças crônicas atualmente, devido ao ritmo de vida acelerado que a sociedade
nos impõe.
Uma característica prevalente em pessoas que não tiveram a
nutrição adequada no mundo e no Brasil é a baixa estatura, que além de ser
indicador da desnutrição está relacionado também com a pobreza, pois sabe-se
hoje que a influência do meio é muito mais significativa do que a genética na
determinação da estatura final do indivíduo. Assim, podemos elencar algumas
causas da baixa estatura, algumas já citados semans atrás, como a nutrição
materna insuficiente, a falta de aleitamento materno até seis meses,
desnutrição intra-uterina, absorção de nutrientes prejudicada por infecções e
parasitoses intestinais, etc.
A evidência de que a estatura é influenciada pela
desnutrição, consequente da pobreza, é mostrada no gráfico abaixo:
As consequências a longo prazo da desnutrição infantil são
derivadas diretamente das alterações fisiológicas do corpo na tentativa de se
manter funcional na falta de nutrientes essenciais. Pesquisas mostram que crianças
que foram desnutridas apresentam a respiração mais acelerada como uma tentativa
do corpo dele de armazenar mais gordura corporal. Um quociente respiratório
mais alto significa que a oxidação de gordura no corpo é menor, portanto a
criança crescerá meno e ganhará menos músculos, menos ossos, e tenderá a usar a
energia que ingeriu para acúmulo de gordura.
Outra alteração importante que ocorre derivada da
desnutrição infantil, comparando-se adolescentes de baixa estatura com
controles sem baixa estatura, é a diminuição na produção de insulina pelas
células beta do pâncreas e, consequentemente uma sensibilidade à insulina mais
alta, como mostrado na tabela abaixo. Essas alterações podem levar a uma
falência pancreática e ao aumento do risco de diabetes na vida adulta.
Essas são algumas das alterações funcionais que ocorrem no
indivíduo adulto que não teve nutrição adequada na infância. Existem outros
problemas relacionados, mas o objetivo dessa discussão foi mostrar que os
problemas vividos pelas crianças, como a fome, refletem diretamente no seu
desenvolvimento e na sua qualidade de vida quando for adulto. Em resumo,
pode-se fazer a análise da figura a seguir para saber as alterações
fisiológicas no adolescente e adulto devido à desnutrição na infância.
Fonte:
http://www.scielo.br/pdf/ea/v17n48/v17n48a08.pdf